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O que é o declínio florestal?

O aumento da intensidade das secas nas últimas décadas devido às alterações climáticas está a colocar muitas espécies sob uma enorme pressão adaptativa. Esta pressão está a afectar negativamente estado das florestas, o que se manifesta em enormes eventos de perda de vigor, queda de folhas e mortalidade de árvores em todo o mundo (Allen et al., 2010).

No caso da Península Ibérica, a seca típica de verão foi exacerbada pela mudança climática das últimas décadas, e espécies tão adaptadas e resistentes a condições de seca como a azinheira (Quercus ilex L.). estão a sofrer um aumento na taxa de queda de folhas e de mortalidade não registado anteriormente (Lloret et al., 2004; Carnicer et al., 2011).

A comunidade científica ainda tem poucos dados sobre a magnitude deste declínio na Península Ibérica. É necessário e urgente o desenvolvimento de um diagnóstico sólido sobre o estado fisiológico e ecológico das florestas de azinheira, o que nos permitirá entender os mecanismos de vulnerabilidade precoce perante eventos extremos de seca na Península Ibérica.

Nas fotos a seguir mostramos exemplos de uma azinheira com declínio (esquerda) e uma azinheira morta (direita).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Efeitos do declínio da azinheira

 

Devido à importância das azinheiras na Península Ibérica, onde ocupam uma área de cerca de 5 milhões de hectares (Roda et al., 2009; Campos et al., 2013) e onde são uma fonte importante de recursos desde o império romano (López-Sáez et al., 2008; Campos et al., 2013), a perda de vigor e o desaparecimento destas florestas podem ter um enorme impacto cultural e económico nesta região. Este declínio também está a produzir alterações visíveis na nossa paisagem, comprometendo a capacidade das nossas florestas de preservar a sua diversidade e, em particular, a dos animais que nelas habitam.

 

A diminuição do vigor e o aumento da incidência do declínio em azinhais, também podem causar danos irreversíveis na capacidade destes sistemas de fornecer outros serviços de ecossistema essenciais, tais como a capacidade de mitigar as alterações climáticas (através da sua capacidade de fixar carbono a longo prazo) ou a capacidade de reter nutrientes essenciais, como o azoto (N) que, de outra maneira, poderia ser emitido para a atmosfera na forma de potentes gases de efeito estufa (por exemplo, N2O), ou lixiviado, o que teria efeitos negativos sobre os solos e/ou o equilíbrio dos ecossistemas aquáticos em bacias hidrográficas adjacentes.

 

Neste contexto, alguns trabalhos pioneiros demonstraram como o declínio pode afectar significativamente a estrutura e diversidade das comunidades microbianas do solo (Curiel Yuste et al., 2012; Lloret et al., 2015), responsável por uma grande parte das emissões totais de CO2 dos ecossistemas terrestres (Barba et al., 2013). Devido ao facto da respiração do solo ser o segundo maior fluxo terrestre de CO2 terrestre (75-100 Pg C cada ano; uma ordem de grandeza maior que as emissões devidas à queima de combustíveis fósseis (IPCC, 2007)), pequenas alterações na respiração do solo devidas ao declínio florestal podem resultar em aumentos importantes das emissões de gases de efeito de estufa para a atmosfera. Este aumento, por sua vez, pode traduzir-se num aumento do efeito estufa causado pela acumulação de CO2 na atmosfera.

 

Causas do declínio dos azinhais da Península Ibérica

 

O declínio da azinheira não tem uma causa única, existindo diferentes factores que interagem entre si. No entanto, não sabemos como os vários factores que estão envolvidos no declínio da floresta interagem, determinando os padrões de alocação de recursos e produtividade, e como essas relações são afectados pelas tendências climáticas, a posição geográfica e o tipo de gestão florestal.

 

Por exemplo, embora existam teorias sólidas que descrevem as possíveis causas fisiológicas envolvidas na perda de vigor da vegetação devido ao aumento da seca (privação de carbono e / ou falha hidráulica; ver, por exemplo Mc Dowell et al., 2011), a nossa compreensão dos mecanismos que ligam as interações bióticas entre as azinheiras e outros organismos do ecossistema, como os microrganismos, com o funcionamento do ecossistema, ainda são muito limitadas.

 

Neste contexto, tem se observado que uma das principais causasdo declínio em azinhais do sul e sudoeste da Península Ibérica é indirecto, sendo que os efeitos da seca sobre a fisiologia e vigor das azinheiras está a predispôr esta espécie ao ataque de agentes patogénicos, como Phytophtora cinnamoni ou Pythium spiculum. No entanto, em algumas áreas do nordeste da península parece que a causa directa da decadência das azinheiras é o efeito da seca sobre a sua fisiologia, levando à perda de vigor e, eventualmente, à morte (Camarero et al., 2014). Parece também que o historial de gestão e uso dos azinhais pode afectar significativamente o estado fisiológico das azinheiras e a sua vulnerabilidade ao aumento da seca devido às alterações climáticas. Todos estes estudos sugerem a necessidade de ter em conta o uso histórico do solo para compreender o comportamento actual das azinheiras.

 

 

Bibliografía

  • Allen CD, et al. (2010) Forest Ecology and Management 259(4):660-684.

  • Barba, J., et al. (2013) Forest Ecology and Management 306, 79-87.

  • Camarero, J.J., et al. (2014) Ecosistemas 23(2): 73-81.

  • Campos, P., Huntsinger, L., Oviedo, J.L., Díaz, M., Starrs, P., Standiford, R.B. y Montero, G. (eds.). (2013). Mediterranean Oak Woodland Working Landscapes: Dehesas of Spain and Ranchlans of California. Springer, New York.

  • Carnicer J, et al. (2011) PNAS 108: 1474-1478.

  • Consejería de Medioambiente, Junta de Andalucía. (2007). Procesos de Decaimiento Forestal (la Seca) – Situación del Conocimiento 2000 – 2007: Conclusiones Ias Jornadas sobre Decaimiento 2007

  • Curiel Yuste, J.,et al. (2012) Ecology and Evolution 2, 3016-3031.

  • Curiel Yuste J, et al. (2014)  Soil Biology and Biochemistry 69: 223-233.

  • IPCC 2007. Climate Change (2007): The Physical Science Basis. Contribution of Working Group I to the Fourth Assessment Reportof the Intergovernmental Panel on Climate Change, edited by S. Solomon et al., Cambridge Univ. Press, Cambridge, U. K.

  • Lloret, F., Siscart, D., Dalmases, C., (2004) Global Change Biology 10, 2092-2099.

  • Lloret F, Mattana S & Curiel Yuste J (2015). FEMS Microbiology Ecology DOI: http://dx.doi.org/10.1093/femsec/fiu014

  • López-Saéz, López, P., López, L., Cerrillo, E., González, A. y Prada, A. (2008). Revista de Estudios Extremeños 40: 493-509.

  • McDowell, N.G. (2011). Plant Physiology 155, 1051-1059.

  • Rodá, F., Vayreda, J. & Ninyerola, M. (2009). Encinares de Quercus ilex y Quercus rotundifolia. En Bases ecológicas preliminares para la conservación de los tipos de hábitat de interés comunitario en España. Dirección General de Medio Natural y Política Forestal, Ministerio de Medio Ambiente, y Medio Rural y Marino, Madrid.

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